18 fevereiro 2010

OS MEDOS DOS NOSSOS FILHOS

Por proposta da nossa equipa de psicólogas, publico um texto sobre os medos, que poderá ser objecto de reflexão para pais e educadores em geral e até mesmo dos filhos:

Tenho medo de…

Medo!

Achas que és medroso? Às vezes, ter um pouco de medo é bom, porque… imagina que não tínhamos medo de nada. Éramos capazes de ver um buraco no chão e meter lá a mão sem pensar no assunto duas vezes. Todavia, o medo é como um alarme que nos avisa: — Olha, tem cuidado, que pode ser que haja um bicho venenoso! Ele faz-nos agir com precaução e, desse modo, não nos acontece nada. Por vezes o alarme é distorcido e temos medo de coisas que não representam qualquer perigo, como, por exemplo, de uma mosca. Nesse caso, o medo já não é bom, porque se torna tão incómodo e tão pesado que não nos deixa fazer nada.

Tenho medo de…

É possível ter-se medo de ir ao dentista, dos automóveis, das cobras, dos lápis, dos monstros, da montanha-russa, das trovoadas, das pastilhas elásticas, do escuro, dos cães, do cabeleireiro, dos óculos, das ratazanas, das aranhas, dos extraterrestres, dos mosquitos, da música, do ruído, dos relâmpagos, de algumas pessoas… e de todas as coisas que possas imaginar! No entanto, de certeza que nesta lista existem vários medos que te dão vontade de rir, não é verdade?

Não vejo nada

Fundiu-se a lâmpada do corredor e tens uma vontade imprescindível de ir à casa de banho. Vais pedir a alguém que te acompanhe, mas ninguém está disposto a ir contigo. Olhas para o caminho que tens de percorrer e este parece compridíssimo!
Mas não te preocupes, podes usar uma lanterna e fingires que és um explorador: o corredor da tua casa pode transformar-se num túnel fantástico! É normal que tenhas um pouco de medo do escuro, porque não consegues ver nada; mas, se aprenderes a brincar nele, verás que é muito divertido. Ânimo, corajoso!

Vai-te embora, trovoada!

Avistas um relâmpago no céu e de seguida, catrabrrum! Ouve-se um trovão que faz imenso barulho. Não sabes porquê, mas, sempre que há uma trovoada, sentes-te muito mal. Toda a gente te diz que não deves ter medo das trovoadas, que não acontece nada… mas, para ti, parece que o céu está a rasgar-se! Se fosse por ti, nunca haveria trovoadas. Porque não experimentas observar uma trovoada através de uma janela? Ou tenta tapar os ouvidos. Daqui a uns tempos, quando conseguires olhar para elas, vais ver que são fantásticas.

Pequenos animais

É normal que alguns animais nos causem medo, porque são perigosos, como é o caso dos leões, das cobras ou das vespas. Contudo, há outros animais que não fazem mal nenhum, como, por exemplo os gatinhos ou coelhinhos. E, sendo assim, vai em frente e aproxima-te sem receio! Se lhes fizeres festas, verás que são como bolinhas de algodão.
No entanto, não te armes em valente! Deves ter muito cuidado com os animais que não conheces, porque alguns deles têm muito mau génio. Não te esqueças de que, às vezes, não faz mal nenhum ter um bocadinho de medo.

Não quero ir ao médico!

O médico toca-te na barriga com as mãos frias, põe-te um pauzinho na boca e manda-te dizer “aaaaa!” e às vezes chega a picar-te para te dar uma injecção. Mas isso também não é assim tão terrível!
Olha para o nariz dele, ou para a cor do seu cabelo, ou então vê bem se ele tem sardas na cara. Se te distraíres, sentir-te-ás mais tranquilo enquanto ele te examina para ver se estás forte e saudável. E, se lhe contares o que te mete medo, o médico vai ter muito mais cuidado. De certeza que ele é muito amável e carinhoso!

Pesadelos

Vais para a cama muito cansado e, depois de já estares a dormir há um bom bocado… Ahhh, um pesadelo horrível! Acordas de repente, tremendo de medo. Precisas que alguém te abrace e te proteja. Pouco a pouco vais ficando mais calmo e, finalmente, voltas a adormecer e agora sim, vais ter um sonho muito bonito.
Os pesadelos provocam muito medo, mas não passam de sonhos e, quando acordas, eles desaparecem por completo. Não lhes dês muita importância, pois eles são muito aborrecidos e antipáticos!

Vamos à água!

Tens medo dos lagos, dos rios, do mar, da piscina… enfim, de qualquer lugar que tenha muita água? Ou talvez tenhas medo dos animais que imaginas haver debaixo de água? Mas podes ter a certeza de que eles têm muito mais medo do que tu!
A melhor maneira de começar a perder o medo da água é metermo-nos dentro dela, aos poucos.
E, dentro de algum tempo, poderás vir a ser um grande nadador ou um marinheiro fantástico. Ou então, quem sabe, até mesmo um mergulhador!

Não me deixes sozinho!

Hoje a mãe do Afonso aborreceu-se imenso. Começou a gritar e disse que ia dar uma volta, porque não aguentava mais. O Afonso ficou em casa com o pai… e ficou muito triste.
Tem medo de que algum dia os seus pais se vão embora para sempre, porque os ama muito!
Por vezes, os pais precisam de estar fora de casa durante muitas horas… e até mesmo durante algumas semanas! No entanto, embora estejam longe, estão sempre a pensar em ti. Nunca se esquecem de ti!

Monstros

Um bicho com muito pêlo, sem pêlo nenhum… ou um fantasma?
Aaah! Seja lá o que for, mete muito medo. É um monstro que se esconde pelos cantos, no escuro, nos pesadelos, debaixo de água… É um monstro terrível, pior do que qualquer outro. É o monstro da tua imaginação! Às vezes, a imaginação prega-te enormes partidas e faz-te pensar em monstros horríveis, mas não penses muito nisso, porque não te podem fazer mal nenhum.

Não posso falar!

O que é que preferes? Estar num quarto às escuras ou no meio de um grupo de pessoas que não conheces de lado nenhum? Por vezes parece que dá mais medo estar entre gente desconhecida, não é verdade? É como se as palavras quisessem sair e nós ficássemos calados sem saber para onde olhar e… ufa, o que nos apetecia era desaparecer!
Talvez todo o medo que sentimos por dentro pudesse sair se disséssemos algo, como por exemplo:
“Olá, o meu nome é Marta.” E o que mais poderíamos dizer?

Ruídos horríveis

Aí está, começa a festa e não podem comemorá-la sem fazer barulho. Quando menos esperas, bum, rebenta um balão! E tu até tens medo de balões, de trovões e de música demasiado alta! O ruído causa-te tanto medo que, quando vês um balão, desatas a correr!
No entanto, não gostarias de ouvir ruídos fortes sem teres que saltar como um canguru, com o susto que apanhas? E se, para começar, tentasses acostumar-te com os ruídos mais fraquinhos? Até poderia ser divertido!

Ai, ai, ai!

Caíste e… ai! Fizeste uma ferida que deita sangue! É normal que te assustes quando sangras, mas deves ser corajoso e acalmar-te enquanto os adultos te tratam.
Para te distraíres, podes pensar em coisas que sejam da cor do sangue, como por exemplo o tomate, as rosas, os morangos…
A dor que sentes é muito boa, porque te avisa que deves ter cuidado com a ferida até que esta esteja curada. Desse modo, prestarás mais atenção e não vais ferir-te mais.

Sem medo

Não tenhas medo de ter medo, pois não tardarás a ver que este se vai, aos poucos, tornando cada vez mais pequeno, até que acaba por desaparecer. Todavia, não percas o medo de todo: é sempre bom sentir um bocadinho de medo.

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